Joaquim Tenreiro

nasceu em Melo, pequena aldeia de Portugal, e fixa-se no Rio de Janeiro em 1928. Filho e neto de marceneiros, aprende a trabalhar com a madeira ainda criança. Em 1929, cursa desenho no Liceu Literário Português, paralelamente estuda no Liceu de Artes de Ofícios. Participa, em 1931, do Núcleo Bernardelli, tendo como colegas, entre outros, os pintores José Pancetti (1902 – 1958) e Milton Dacosta (1915 – 1988). Trabalha, entre 1933 e 1943, como projetista nas firmas Laubish & Hirth, Leandro Martins e Francisco Gomes, especializadas em móveis de estilos francês, italiano e português – “luízes de todos os números e renascimentos tardos de 400 anos”, como relata Tenreiro, ironicamente. Funda, em 1943, a empresa Langenbach & Tenreiro, colocando em prática sua concepção de móvel moderno.

Torna-se conhecido como designer em 1942, quando recebe a primeira encomenda de móveis, para a residência de Francisco Inácio Peixoto, em Cataguases, interior de Minas Gerais, projetada pelo arquiteto Oscar Niemeyer (1907 – 2012). Esses são os primeiros exemplares concebidos, projetados e realizados por ele, que se distinguem pela sobriedade e beleza das formas e pela sábia utilização de madeiras brasileiras. Dialoga também com a pureza das formas arquitetônicas de Niemeyer.

A Poltrona Leve (ca.1942) – realizada nas versões clara, em madeira marfim, e escura, em imbuia, com tecido estampado por Fayga Ostrower (1920 – 2001) – é uma de suas produções mais conhecidas, concebida de acordo com a idéia de que a mobília brasileira deve ser formalmente mais leve. Nas palavras de Tenreiro, leveza que nada tem a ver com o peso em si, mas com a graça e funcionalidade. Atestando a modernidade dos móveis feitos no Brasil, o design de Tenreiro tem por princípios a adequação à função e o despojamento.

Na Cadeira de Três Pés (ca.1947), inova ao associar a geometria a um uso muito particular das cores das madeiras nacionais. Composta de combinações de madeiras de diferentes tonalidades (imbuia, roxinho, jacarandá, marfim e cabreúva), essa cadeira apresenta um refinado jogo cromático. O uso da cor, anteriormente restrito ao acabamento dos móveis, torna-se um conceito central em sua criação. Na Cadeira de Balanço (ca.1948) utiliza a palhinha – uma tradição do móvel colonial brasileiro, retomada pelo artista – e o jacarandá. Como outros móveis de Tenreiro desse período, ela tem uma aparência leve e luminosa, contrastando com a mobília sólida e sóbria, criada anteriormente para a firma Laubisch & Hirth.

Em algumas cadeiras e poltronas, o artista explora os efeitos plásticos da trama em palhinha e outros materiais que evocam o trançado e a cestaria indígenas. O uso de madeira e fibras naturais associa-se à necessidade de adequar os móveis ao clima tropical. Juntamente com estas composições orgânicas, outras peças de Tenreiro como, por exemplo, a Cadeira Estrutural, apresentam linhas retas e elementos geométricos, regulares, empregando estruturas tanto de madeira (1957) quanto de metal (1961). O conhecimento profundo da madeira permite a Tenreiro obter a qualidade poética de suas obras.

No fim da década de 1960, por questões pessoais e também de mercado, encerra as atividades de designer e dedica-se principalmente à escultura. Produz relevos, treliças e colunas em madeira policromada, nas quais se destacam a combinação da produção artística e o amplo conhecimento do trabalho. Algumas soluções, contidas na funcionalidade dos móveis criados por ele, são utilizadas de maneira mais livre na escultura. As técnicas de composição cromática empregadas, por exemplo, na Cadeira de Três Pés, são retomadas posteriormente em alguns relevos, em que o artista explora as diferenças de cor, texturas e os veios da madeira, como em Círculos (1979). A produção de Tenreiro alia, portanto, as características modernas do despojamento e simplicidade ao uso de materiais brasileiros. Assegura às peças produzidas uma qualidade artisticamente elaborada, renovando, assim, o desenho do móvel brasileiro.